PERRENOUD, Philippe. Pedagogia Diferenciada: das intenções à ação. Porto Alegre: Artes médicas Sul, 2000.

Sociólogo suíço e um conceituado professor na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação na Universidade de Genebra, também é autor de vários títulos importantes na área de formação de professores, hoje considerados leitura obrigatória para os profissionais do ensino. Perrenoud é um dos educadores mais conhecidos por suas obras e por suas idéias pioneiras sobre a avaliação em sala de aula e sobre a profissionalização do professor. Autor de "Avaliação - Da excelência à regulação das aprendizagens” e "Construir as competências desde a escola", “Pedagogia Diferenciada” e o best-seller “Dez novas competências para ensinar”. Foi depois do doutorado em Sociologia, em que estudou as desigualdades sociais e a evasão escolar, que o professor passou a se dedicar ao trabalho com alunos, às práticas pedagógicas e ao currículo dos estabelecimentos de ensino do cantão de Genebra.
Perrenoud é uma referência essencial para os educadores no Brasil por propor o modelo educacional baseado num ciclo de avaliação de três anos, ou seja, em vez de um ano, a criança tem três para desenvolver as competências estabelecidas para aquela faixa etária. Assim, segundo o sociólogo, o aluno tem muito mais chances de não ser reprovado se não adquirir uma determinada habilidade em um ano, já que tem mais tempo para amadurecer e aprender.
Propõe-se, nesse trabalho, apresentar uma síntese e avaliação crítica de textos escritos por Philippe Perrenoud, todos com base na idéia de que a educação do futuro deve se aproximar mais das questões humanas, englobando cada vez mais aspectos do quotidiano e tomando o ser humano como referencial para o ensino. Tais idéias proporcionam uma priorização na humanização da educação e tirariam os atuais processos educativos do estado de inércia, fazendo com que esses evoluíssem de forma compassada com as novas realidades sociais a nós apresentadas.
A leitura do primeiro texto: Formar professores Profissionais para uma formação contínua articulada à prática, teve contribuição dos autores Perrenoud, Pasquay, Altet e Charlie. Um primeiro ponto a ser ressaltado na leitura do texto de referência é o fato de que segundo a perspectiva do autor que por sua vez se baseia eminentemente nos escritos de Lemosse e Shavelson – enfatiza que o profissionalismo do professor depende do próprio indivíduo, e que o verdadeiro profissional é aquele que consegue tomar decisões tendo como bases as condutas disponíveis e competências necessárias para a profissão.
O conceito de reflexão é posto, em primeira mão, pelas produções de Schon e apesar de estarem voltados para a formação de professores, dão margem para o estabelecimento de confusões entre a prática reflexiva espontânea do ser humano e a prática reflexiva metódica e coletiva. A primeira se estabelece pela necessidade de tomar uma decisão, resolver problemas, etc.; a segunda, se caracteriza pelo movimento do profissional para pensar os objetivos que não são atingidos.
Pois bem, se um sentimento de fracasso desencadeia uma reflexão espontânea, ela também é alimentada pela vontade de fazer um trabalho de modo eficaz e ético. No ensino, é raro que toda uma classe ou estabelecimento escolar domine os saberes postos. É, por isso que, a reflexão não pode se restringir a resolver crises. De forma outra, é bom imaginá-la como tendo um funcionamento constante. Neste sentido, a prática reflexiva deve se estabelecer na instituição escolar como uma rotina, o que coloca a necessidade de métodos para observar, memorizar, analisar, compreender e solucionar.
A segunda leitura reluz o texto: Práticas do microensino e da vídeoformação: Competências e estratégias privilegiadas. Ainda com as contribuições dos autores citados anteriormente, ressalta de forma lúcida a idéia de que a ferramenta vídeo pode intervir nos aprendizados profissionais dos professores em diversos momentos e de múltiplas maneiras. Retomando a contribuição do texto referido, as funções que lhe são atribuídas no processo de formação variam conforme as concepções do oficio de professor privilegiado pela instituição de formação.
Na concepção do autor, o vídeo desempenha entre os meios de instrumentalizar as ligações teoria – prática. Salientando que o valor formativo dessa atividade está ligado, à possibilidade de explorar seus dados e de submetê-los a uma análise. Nesse sentido, propõe que o professor é capaz de se auto avaliar e de se regular, permitindo uma reflexão e a análise individual e em grupo.
Em continuidade com o autor Perrenound a terceira leitura: Formar na prática reflexiva por meio da pesquisa? Ressalta que diante das transformações sucessivas que se efetivam em nossa sociedade, é necessário que tomemos conhecimento de suas reais implicações dentro da escola e também na formação do professor, com ênfase neste último aspecto. Portanto, em primeira instância, o texto vai apontar a prática reflexiva e a participação crítica como atitudes necessárias aos professores.
Sob esse aspecto o autor de forma elucidativa afirma que é provável a formação universitária dos professores vivenciada como um progresso pela profissão. Diante da desvalorização do status dos professores como pessoas notáveis na comunidade local, da aproximação cultural entre eles e os pais de alunos, da evolução de profissões comparáveis, o acesso de uma formação universitária oferece uma compensação interessante, tanto do ponto de vista simbólico como financeiro. Orientando com clareza a formação dos professores para uma prática reflexiva, valorizar os saberes advindos da experiência e da ação dos profissionais e desenvolver uma forte articulação teórica – prática e uma verdadeira profissionalização. Nessa concepção o autor aborda quatro ilusões que devem ser abandonadas pelo professor que deseja uma formação que seja tanto universitária quanto profissional: a ilusão cientificista, disciplinar, objetividade e metodológica.
A quarta leitura se baseia eminentemente no texto: Planejamento e Avaliação do estágio, do mesmo autor de referência. O texto propõe a partir de indagações realizadas por alunos, reflexões sobre o estágio como campo de conhecimento e espaço de formação docente, tendo como eixo a pesquisa da prática.
O autor apresenta em uma linguagem simples, reflexões e propostas sobre o planejamento e a avaliação das atividades do estágio, entendendo-as como processo contínuo e coletivo. Seu desenvolvimento está baseado em textos e depoimentos de alunos e de professores universitários que orientam o estágio, o que possibilita uma aproximação e suas práticas.
Retomando as contribuições do texto, percebe-se que a Prática de Ensino é o laboratório de muitos futuros professores; é onde pode-se ter um contato mais próximo da realidade que encontra-se em sala de aula e como lidar com diversas situações, às vezes bastante inusitadas, que ocorrem. Há uma construção e preparação do conteúdo que irá trabalhar com os alunos, o que se chama de planejamento de aula.
Porém, nem sempre o que está nos planos é ou pode ser seguido à risca. Muitas vezes tem-se que fazer adaptações dele para o local onde irá empregá-lo, colocá-lo em prática.
O último texto em questão também obra do renomado autor Philippe Perrenoud: Planejando o estágio em forma de projetos, subsidia o processo de planejamento escolar e a conseqüente reformulação da Proposta Pedagógica por tratar, essencialmente, dos seguintes temas: fracasso escolar e democratização do ensino; diferenciação e práticas pedagógicas favoráveis à transferência de conhecimentos; individualização do currículo e otimização das situações de aprendizagem; gestão integrada do currículo de um ciclo de aprendizagem; organização modular de um ciclo de aprendizagem.
A obra faz uma abordagem sobre os principais domínios da pedagogia diferenciada. Cada um deles confronta-se com o mesmo dilema: como considerar as diferenças sem limitar cada aluno em sua singularidade, seu nível ou sua cultura de origem?
Considerar as diferenças é colocar cada aluno diante de situações ótimas de aprendizagem. As pedagogias diferenciadas aceitam esse desafio e propõem inovações nas maneiras de resolver o problema.
As pedagogias diferenciadas incluem-se no objetivo da escola, que é ode oferecer a todos uma cultura básica comum. Sem renunciar à diferenciação, o desafio a enfrentar é o de conseguir que todos os alunos tenham acesso a essa cultura e dela se apropriem.
Diferenciar o ensino é, portanto, fazer com que cada aprendiz vivencie situações fecundas de aprendizagem. Para se atingir esse princípio é preciso transformar a escola. Adaptar a ação pedagógica ao aprendiz não é renunciar a instruí-lo, nem abdicar dos objetivos essenciais. Diferenciar é lutar para que, diante da escola, as desigualdades se atenuem e para que o nível de ensino se eleve.
A preocupação de ajustar o ensino às características individuais não surge somente do respeito às pessoas e do bom senso pedagógico. Ela faz parte de uma exigência de igualdade: a indiferença às diferenças transforma as desigualdades diante da cultura, em desigualdades de aprendizagem e, posteriormente, de êxito escolar.
Constata-se uma mudança progressiva de paradigma, ou seja, a individualização da ação pedagógica em uma organização escolar imutável, cede espaço à teoria da individualização dos percursos de formação, que pressupõe uma ruptura com os graus e programas escolares anuais.
Segundo Perrenoud, a diferenciação da pedagogia e a individualização das trajetórias de formação têm sido o fio condutor das políticas educacionais em países desenvolvidos. A obra apresenta uma abordagem global e sistêmica, partindo de uma sociologia da educação fundamentada na sociologia das organizações e do trabalho.
Perrenoud tece referências às reflexões que deram origem às pedagogias diferenciadas como pedagogias racionais, concebidas para neutralizar um dos principais mecanismos de fabricação do fracasso escolar e das desigualdades. Enfatiza a necessidade de se dispor de um modelo explicativo do fracasso. Lembra que, antes de adotar o princípio das pedagogias diferenciadas, os sistemas educativos acreditavam no apoio aos alunos em dificuldade, como alternativa à reprovação. Sob esse foco, Perrenoud apresenta no texto 4 dimensões fundamentais que podem abranger os projetos de estágio. A primeira apresentada por Perrenoud, é a dimensão pedagógica, a segunda dimensão dinamiza o setor organizacional, e posteriormente, a terceira dimensão,
O livro se propõe a uma revisão sobre: a) as teorias de aprendizagem e de ensino; b) a concepção da diferenciação; c) o lugar da avaliação como modo de regulação; d) a teoria da relação e da distância cultural. Questões mais recentes e emergentes são analisadas, tais como a da individualização do currículo e dos percursos de formação. O autor argumenta que a criação de ciclos de aprendizagem leva a repensar e a reordenar radicalmente tempos e espaços de formação.
O objetivo é demonstrar que a pedagogia diferenciada não desconsidera a didática das disciplinas, as teorias da aprendizagem escolar, os trabalhos sobre a avaliação formativa, as regulações e a metacognição. Ela questiona, no entanto, as correntes de pesquisa e tenta levá-las a contribuir com procedimentos didáticos que favoreçam tanto a construção de conhecimentos transmissíveis, como o desenvolvimento de competências.
A proposta é que seja estabelecido um contrapeso ao "excesso didático", sem, por outro lado, voltar ao "excesso relacional" desprovido de contexto social. No âmago das heterogeneidades de desenvolvimento intelectual, encontram-se "ínfimas e derradeiras diferenças" concernentes à psicologia, à sociologia e à antropologia, mais do que às abordagens didáticas e pedagógicas clássicas. Isso não quer dizer que elas não se refiram aos valores e sentimentos. Investem, igualmente, nos saberes, na relação com o saber e nos procedimentos intelectuais mais abstratos. Conforme as normas que utiliza em favor de sua autonomia, o professor atenua ou agrava a distância entre certos alunos e a escola. Essa é uma característica das pedagogias diferenciadas freqüentemente esquecida ou subestimada.
O autor desenvolve o conceito de individualização dos percursos. Para ele o currículo dos alunos é individualizado de fato, seja qual for à pedagogia em vigor. Não se trata de introduzir uma individualização que já existe, mas, de "dominá-la" para que a experiência de cada pessoa se torne uma sucessão otimizada de experiências formadoras. Para avançar nesse sentido, não é possível, nem desejável, generalizar um atendimento individualizado, concebido como a relação dual entre um formador e um aluno. O verdadeiro desafio é imaginar dispositivos que favoreçam interações entre alunos, no âmbito de diversos grupos de trabalho, sem impedir uma individualização da "trajetória" de cada um.
Os ciclos de aprendizagem, no entanto não pode ser considerada unicamente como uma extensão das medidas de auxílio aos alunos com dificuldades ou em situação de fracasso escolar. Eles só têm valor se tornam possível uma melhor formação de base da totalidade dos alunos. A virtude das estruturas não reside nos textos, mas, fundamentalmente, em sua aplicação no cotidiano, por atores que definem tarefas, responsabilidades e cooperações necessárias às quais deixam uma ampla margem de interpretação e autonomia.
O funcionamento mais provável de um ciclo de aprendizagem rompe com os graus anuais. Ele deve se constituir em um espaço-tempo de formação sem nenhuma estruturação interna estável, o que supõe, por um lado, dispositivos muito fortes e eficientes de acompanhamento e de regulação das progressões individuais e, por outro, um repertório de dispositivos didáticos flexíveis e de habilidades avançadas, em matéria de agrupamentos de alunos e de organização do trabalho. A regulação ótima das situações de aprendizagem cotidianas e das progressões em longos períodos supõe uma organização do trabalho que alie rigor e imaginação, ou seja, uma equipe pedagógica tão coerente quanto qualificada.
A alternativa proposta será a de adotar uma organização alternativa mais estável, interna a cada ciclo, conforme uma lógica modular. Tal hipótese tem o mérito de obrigar a buscar as origens do fracasso escolar na análise do trabalho docente. Organizando a escolaridade por módulos temáticos, será favorecida uma gestão de "fluxos reduzidos", permitindo um investimento que só se encerrará quando o objetivo for atingido.
Conclue-se assim com base na leitura dos textos em referência que formar profissional crítico engloba antes de qualquer coisa fazer com que a teoria e a prática andem juntas e interligadas. Muitos professores utilizam a sua experiência enquanto aluno para darem suas aulas o que acarreta um grande distanciamento da teoria aprendida nos cursos de formação, além de não permitir uma reflexão sobre as escolhas feitas e seu significado em relação aos objetivos propostos.

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